Teoria das janelas
partidas
... Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e
ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais. Se uma
comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém,
então ali se gerará o delito...
Há
poucos dias li um artigo do empresário Renato Kasinski sobre esta teoria.
Trata-se de um comportamento muito peculiar a todos nós, convivendo ou não num
conglomerado urbano ou simplesmente num isolado rincão de nosso sertão.
Muitas
vezes viajando para Reriutaba, deparamo-nos logo na saída de Fortaleza, pela
BR-020 com inúmeros sacos plásticos revoltos à margem da pista ou fixos em
pequenos arbustos. Muitos encontram-se bem à frente de residências, que alheio
àquela sujeira, alimentam ainda mais esta sórdida decoração de entrada de
nossas cidades.
Em
contrapartida, muitas vezes chegamos a uma remota e simples varanda de nosso
interior e observamos o quão se encontra varrida, sem lixo, sem sacos
espalhados a seu redor. Tudo isto é exemplo de cuidado que se multiplica entre
as pessoas: Ao vermos uma calçada limpa, buscamos assim mantê-la, se vemos uma
rua sem lixo nas sarjetas, temos o cuidado de nada deixar ali cair.
Lembremos
de nosso próprio carro. Quando ele está polidinho, limpinho, mais cuidado temos
para não sujá-lo numa poça d’água, numa via empoeirada. Porém se o mesmo está
sujo, então vem à nossa mente: “...Ah, deixa para lá...o carro tá sujo mesmo
então eu vou atravessar este lamaçal.” É o que realmente acontece!
Neste
contexto, Em 1969, o professor Phillip Zimbardo
da Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social.
da Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social.
Deixou
dois carros abandonados na via pública, dois veículos idênticos, da mesma
marca, modelo e cor. Um ficou em Bronx,
na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York, outro em Palo Alto, uma
zona rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos abandonados, dois bairros
com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia
social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultou
que o carro abandonado em Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas.
Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse
aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Já o carro abandonado
em Palo Alto se manteve intacto.
É
comum atribuir à pobreza as causas de delito, atribuição em que coincidem as
posições ideológicas mais conservadoras (da direita e da esquerda). Contudo, a
experiência em questão não terminou aí. Quando o carro abandonado em Bronx já
estava destruído e o de Palo Alto impecável, os investigadores partiram um
vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo
processo que o do Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o
veículo do bairro rico ao mesmo estado que o do bairro pobre.
Por
que o vidro quebrado, no carro abandonado num bairro supostamente seguro, é capaz
de disparar todo um processo delituoso?
Não
se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia
humana e com as relações sociais. Um vidro partido num carro abandonado
transmite a ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação, que vai
quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de
regras, em que vale tudo.
Cada novo ataque que o carro sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Cada novo ataque que o carro sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Em
experiências posteriores, James Q. Wilson e George Kelling desenvolveram a
"Teoria das Janelas Quebradas", a mesma que de um ponto de vista
criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira,
a desordem são maiores. Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e
ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais.
Se
uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a
ninguém, então ali se gerará o delito.
Se
se cometem "pequenas faltas" (estacionar em lugar proibido, exceder o
limite de velocidade ou passar um sinal vermelho) e isso não gera punição,
então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se
permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o
padrão de desenvolvimento será de maior violência quando chegarem à idade
adulta.
Se
os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente
abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por
temor à criminalidade), são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
A
Teoria das Janelas Quebradas foi aplicada pela primeira vez em meados da década
de 80 no metrô de Nova York, que se havia convertido no ponto mais perigoso da
cidade.
Começou-se
por combater as pequenas transgressões: pichações deteriorando o lugar, sujeira
das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem,
pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo
pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
Mais
tarde, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das
Janelas Quebradas e na experiência do metrô, impulsionou a política de Tolerância
Zero. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não
permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado
prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova
York. A expressão Tolerância Zero soa como uma espécie de solução autoritária e
repressiva, mas seu conceito principal é a prevenção e promoção de condições
sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem de estimular a
prepotência da polícia. De fato, aos abusos das autoridades deve também
aplicar-se a Tolerância Zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que
comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de
criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos
da convivência social humana.
Essa
é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em
nosso bairro, na vila ou condomínio onde vivemos, não só em cidades grandes. A
tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
Esta
teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com ruas pixadas, corrupção,
impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo e falta de educação, mesmo
com o simples ato de jogar uma ponta de cigarro na rua ou um chiclete mascado.
Às
vezes chegando na minha cidade numa tarde de sábado, vejo inúmeros garis
varrendo as ruas, mas numa contenção de impulso, guardo os papéis e garrafas de
água mineral vazias dentro do carro, pois já há bastante lixo para aqueles
trabalhadores juntarem. Quantas garrafas e sacos jogados pela praia nós
coletamos pelos que praticam este tolo ato?
Ao
praticarmos estes atos de zelo para com nossa cidade, para com nosso
meio-ambiente, estaremos multiplicando tal atitude aos olhos de quem hoje não o
pratica. Multipliquemos esta idéia, pois somente assim nossa casa, nossa calçada,
nossa rua e nossa cidade ficará cada vez mais bem zelada.
Reriutaba-CE, 14/05/2013
Luiz Lopes Filho