“Iuuurrrrrullll”
Nestes
dias transgênicos, onde se impera os displays luminosos das tevês, tablets e
telefones de versões dinâmicas, estamos muito acostumados ao conforto e à dependência absoluta da energia elétrica em nossas residências.
Só
nos deparamos ante a grande importância da energia, quando nos falta luz e
força!
O
condicionamento é tão forte que, mesmo sabendo que faltou energia,
automaticamente vamos aos interruptores ligar a luz ou à tomada, ligar nossos
celulares.
Nesta
noite somente permaneceu a luz das estrelas no céu e, aqui embaixo, pontos
iluminados por geradores!
Muitos,
em função da violência, permaneceram trancados em suas casas esperando a luz
elétrica voltar.
Milhares
de moradores permaneceram sem energia elétrica por muitas horas e ainda há
muita gente sem luz em suas casas.
Sem
energia, para de funcionar tudo e parece que ficamos atônitos totalmente e sem
saber o que fazer.
É
uma dependência irrestrita da sociedade contemporânea para com a energia.
Na
minha infância não era assim!
Até
gostávamos quando faltava energia!
Isto
acontecia no período chuvosos: disjuntores ou transformadores “gripavam” com as
primeiras gotas ou com os fugazes relâmpagos e deixavam a pequena cidade à luz
de velas e lamparinas.
Lá
em casa tinha um lampião. Era nossa luz de emergência movida a querosene que
incandescia uma camisa de película que se desmanchava a um leve toque.
Faltou
energia, havia dois caminhos a seguir correndo: ou para a cama de nossos pais
ou para a calçada iluminada pelas estrelas.
Não
havia dia melhor para nós meninos daquela época que um dia de falta de energia!
Como
era bom termos a família toda no ninho dos pais ouvindo estórias de trancoso!
Como
era agradável reunirmo-nos na calçada e observarmos tantas famílias a fazer o
mesmo!
Olhar
o céu; aguardar uma estrela cadente e dar um nó na camisa para fazer um pedido;
acender uma pequena fogueira e assar carne ou milho verde; ouvir histórias de
assombração; ver nossa irmã mais nova adormecer no colo da mamãe; receber uma assada
espiga de milho do papai!
E,
por que não:
Ouvir
a cidade inteira gritando comemorando o retorno da energia num uníssono e forte
grito: iuurruuuullll
Pensei
que nunca mais fosse ouvir isso!
Muito
menos aqui numa capital!
Mas
hoje ouvi o saudoso grito típico de cearense: “iurrrrrruuuuuullllll”
Luiz
Lopes, 21 de março de 2018