Seu Firmino
Ontem
fui com papai e mamãe ao centro, pois já estava com saudades após tão somente quinze
dias que passei no exterior. Não posso ficar mais que 10 dias sem cortar o
cabelo. Por isso mantenho meu costume de ir ao centro, visitar o Salão Presidente e depois comer
um pastel de carne com caldo-de-cana no Leão do Sul.
Também gosto de levar meu pai, para melhorar
seu bom humor quando está aqui em Fortaleza. Na volta do centro, fiquei muito triste
quando minha mãe me noticiou sobre a partida do Seu Firmino, não de trem como
tantas e tantas vezes o fez, viajando entre Reriutaba e Fortaleza, mas para uma
viagem mais longa: para a eternidade. Seu Firmino foi embora para o Céu!
Nunca soube seu nome completo e nunca procurei
saber, talvez porque o simples chamado “Seu Firmino” já se convertia em
sinônimo de honestidade, dignidade, amizade, humildade e perseverança. Seu
Firmino era um homem trabalhador e, acima de tudo um grande prestador de
favores à comunidade reriutabense. Sua família era somente Dona Cecília e sua filha, Cristina quando moravam em Fortaleza. Após anos e anos trabalhando nas feiras de Reriutaba e Araras, passou a morar em Reriutaba na antiga casa do Seu Filemon ali na Rua 25 de Setembro, porém continuou a viajar para Fortaleza em busca de seus produtos na Ceasa em Maracanaú. Por falar nisso, sempre costumava citar o trocadilho com os meninos de nossa rua, pedindo para pronunciarmos bem ligeiro: "Macaraú-Maracanáu-Macaraú".
Gostava quando lhe perguntávamos se havia chovido em Fortaleza porque já de pronto tinha sua resposta, movimentando o dedo polegar subitamente para trás: - O Senhor que saber se choveu em Fortaleza? Onde? no Centro, na Aldeota, no Álvaro Weyne ou no Montese? Depende......Fortaleza é muito grande...! E passava a sorrir com áurea de bom conhecedor da capital.
Gostava quando lhe perguntávamos se havia chovido em Fortaleza porque já de pronto tinha sua resposta, movimentando o dedo polegar subitamente para trás: - O Senhor que saber se choveu em Fortaleza? Onde? no Centro, na Aldeota, no Álvaro Weyne ou no Montese? Depende......Fortaleza é muito grande...! E passava a sorrir com áurea de bom conhecedor da capital.
Nas
décadas de 70 e 80 não havia meio mais eficiente e rápido de enviar encomendas
e cartas para Fortaleza senão pelas mãos do Seu Firmino. As famílias que tinham
filhos estudando na capital pediam-lhe para que levasse cartas, quilos de carne
de gado (geralmente chã-de-dentro), camarão-sossego pescado no Açude do Araras,
queijo, batidas, alfinins e nosso bacalhau chamado Jirigóia, um peixe seco ao
sol que era muito barato para seu bom sabor.
Para
receber as encomendas na 2ª feira pela manhã, íamos até a lanchonete do Seu
Chico Gomes, situada na Praça da Estação, quase esquina com Rua Castro e Silva.
Seu Chico Gomes também era de Reriutaba e morava com a família naquela área até
meio imprópria para uma residência familiar, pois ali se amontoavam por toda a
Castro e Silva inferninhos e prostitutas que vagavam pelas ruas sujas e
perigosas.
Quando
criança tinha medo de ir pegar estas encomendas, pois havia bêbados, mulheres
maltrapilhas e tudo mais da mundana vida de centro de capital. Nas entradas dos
bares, piscavam ainda caixas de som coloridas que se esqueciam da presença da 2ª
feira e que continuavam entoando suas melodias de cabarés.
Quando
chegava na lanchonente do Seu Chico Gomes situada na Praça da Estação, próximo à
Rua Castro e Silva, logo pegava meu pacote com queijo, carne e outros itens e; corria para o ponto de ônibus em rumo de casa, pois já era 1 hora e sequer
tinha almoçado. Acho que a pressa não era pela fome do almoço, mas pela ânsia
de ler a carta que minha mãe enviava dentro do pacote trazido pelo Seu Firmino.
Abaixo exponho uma carta guardada que minha mãe me enviou pelo Seu Firmino datada de 1984. Telefone era muito caro e ainda tinha que se aguardar o pessoal da Teleceará para transferir a ligação para cada residência; quando muitas vezes não se lograva êxito:
Abaixo exponho uma carta guardada que minha mãe me enviou pelo Seu Firmino datada de 1984. Telefone era muito caro e ainda tinha que se aguardar o pessoal da Teleceará para transferir a ligação para cada residência; quando muitas vezes não se lograva êxito:
Feirante
humilde que adotou minha Reriutaba como sua cidade, vinha toda semana de trem. Levando
fardos de batata inglesa, beterraba, cenoura e alho; embarcava na Estação João
Felipe em Fortaleza com seus produtos para vender nas feiras de Reriutaba e de
Araras, antigamente distrito de Reriutaba e atualmente Varjota.
Chegava
pela madrugada e deixava muitas mercadorias na Estação aos cuidados do
saudoso Seu Saldanha de quem também era muito amigo. Cedinho ele estava a
escolher os melhores produtos dos sacos, jogando fora os legumes estragados.
Sua banca era a mais procurada, pois era o único que dispunha de batata
inglesa, cenoura, beterraba, além de abacaxi, maçã e uvas. Naquela época era
difícil encontrar-se bons produtos no interior. Maçã, abacaxi e uva eram itens
de luxo na minha infância.
Aos
sábados, após a feira se acabar por volta do meio-dia, subia a Rua 25 de
Setembro, onde estava situado o depósito do Seu Firmino, antigo ponto comercial
do Seu Coquim, pai do Zé Audir, saudoso amigo taxista e poeta.
Apesar
de todos os sábados Seu Firmino ir almoçar lá em casa e isto já era costume, tínhamos que convidá-lo
pessoalmente e esta era minha tarefa após a feira de sábado, quando o papai
dizia: - Luiz Filho, vá chamar Seu Firmino. Rapidamente subia a linha do trem e
cruzava a rua para chamá-lo para almoçar. Tinha uma recompensa para mim:
bombons azedinha, pirulito Zorro ou pastilhas de hortelã da marca Valda.
Era
o melhor almoço da semana. Na mesa com meus pais, minhas duas irmãs (na época
era somente 3/5 da prole atual) e Seu Firmino. Era também bom porque no almoço havia
verduras frescas, saladas de frutas e abacaxi em rodelas. Tudo da banca do Seu
Firmino.
Esta narrativa contém um pouco das lembranças deixadas pelos velhos tempos de infância e que foram
os capítulos iniciais no conhecer de uma pessoa tão prestativa e honesta que
foi Seu Firmino.
Esta é minha sincera homenagem ao Seu Firmino em forma de gratidão e respeito!
Esta é minha sincera homenagem ao Seu Firmino em forma de gratidão e respeito!
Fortaleza-CE,
12/12/12
Luiz
Lopes Filho
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