Ontem,
comentávamos sobre as diversas faces do comportamento humano frente ao sucesso
de outrem. Um amigo lembrou-se logo de seu pai que lhe dizia:
- Filho, há um
obstáculo à frente de nossos passos, onde os que estão subindo o muro numa
acirrada concorrência, muitas vezes puxam seu vizinho, impedindo-o de galgar
seu topo. E nesse puxa-puxa, alguns se desvencilham destas garras e conseguem
vencer, conseguem sentar-se lá no topo deste muro. Ali pode tranquilizar-se,
pois as garras que antes o puxavam, não mais são capazes de alcançá-lo.
Consegue pois filigranar seu sucesso profissional.
Lembrando-se
então do pensamento do saudoso Dr Edmar Fujita, acho que mesmo sentados numa
confortável posição, há também outros que compartilham o topo deste muro e, se
dermos algum sinal de proximidade e de ameaça a seu lugar, acho que também vão
querer que nos espatifemos lá de cima, numa queda ainda mais traumática.
Portanto,
mantenhamos nossas posições, nossos limites, nossos caminhos sem perturbação ao
próximo. Não queiramos tirar proveitos do suor alheio, não queiramos dividir
uma conta sem equidade, não queiramos comprar barato o ofício do próximo pelo
fato de hoje ele estar fragilizado. Não queiramos tornar nossas vidas regidas
pelas frias e silenciosas engrenagens do mercado financeiro.
Apologia à
preguiça, incentivo ao comodismo. Talvez tenhamos que ouvir tais refrões ante a
este pensamento, mas não se trata de deixarmos de trabalhar, de fugir à
pesquisa e ao estudo em busca de novas tecnologias indispensáveis à nossa
sustentabilidade, significa compartilharmos mais sem prejuízo próprio.
Hoje estamos:
presidente, gerente, juiz, celebridade; amanhã seremos tão somente nós.
Encontrei-me com um ex-presidente de um banco numa solitária leitura, sem
ninguém a paparicá-lo. Aproximei-me e o cumprimentei: - Tudo bem, presidente?!
Esta tranquilidade deve-se ao livro ou à ausência de tantos bajuladores de
outrora? Respondeu-me através de um sorriso alentador, acenando para os dois
motivos.
Há alguns anos,
a caminhada matinal da Beira-Mar da cidade era feita num cortejo diário ao
ex-presidente por vários gerentes que o acompanhavam em sua cadência e até
mesmo em seu ritmo respiratório, buscando a proximidade do poder ou somente
aparentá-los a tal situação.
Nesses dias vi o
ex-presidente caminhando sozinho e, numa engraçada coincidência, o novo
presidente cruzou seu antecessor com o mesmo cortejo que antes o pertencia.
Sorri silenciosamente perante esse quase parasitismo social a desfilar no
calçadão da beira-mar.
Hoje em dia, podemos para compreender as relações
ecológicas e as formas de interações biológicas no mundo natural. Programas
como os da National Geographic e da série Planeta Terra, da BBC, mostram tais
interações nos mais diversos biomas, sejam eles localizados nos pólos, nas
montanhas, no mar, nas savanas ou nas florestas tropicais.
Da pareceria e cooperação às de antagonismo ou competição. A simbiose e o comensalismo são relações harmônicas. Desarmônicas são interações como a antibiose (princípio usado nos antibióticos, que matam ou inibem certos organismos vivos), o predatismo e parasitismo. Estratégias astuciosas se aplicam nestas relações antagônicas.
Nós, humanos, mantemos diversos modos de relações ecológicas e interações com os demais de sua espécie, com outras espécies e com seu próprio habitat.
O ambientalista José Lutzenberger dizia que a população humana vem se comportando pior do que o pulgão no tomateiro. O parasita vive no corpo do hospedeiro, do qual retira alimentos. O pulgão se reproduz até matar a planta hospedeira. Assim estamos nos comportando como parasitas da Terra, donde se nutre, consome matérias primas e energia.
Mas a natureza pode assumir a face da mãe Kali. Ela é a verdadeira representação da natureza e é também considerada por muitas pessoas a essência de tudo o que é realidade e a fonte da existência do ser. Numa reedição da expulsão do paraíso, nossa espécie corre o risco ser banida do planeta que a hospeda, conforme sugere James Lovelock, o autor da teoria Gaia, que prevê a redução da população humana a tão somente um bilhão de pessoas ao final deste século XXI.
Aristóteles já dizia que o homem é um animal político e assim o sendo, as formas de interações correspondentes às biológicas e ecológicas se reproduzem nas relações políticas, sociais, econômicas e afetivas.
A consciência e a ação ecológica podem fazer-nos evoluir conscientemente numa relação comunitária e colaborativa. O ser humano sustenta a natureza e, por sua vez é por ela sustentado. Simbiose implica cooperação, coevolução do ser em seu ambiente. Aplicado na ecologia industrial, o conceito supõe que existam interações lucrativas entre empresas de vários setores, pelas quais recursos tais como a água, a energia e materiais provenientes de uma indústria são recuperados, reprocessados e reutilizados por outras.
Portanto, nesse polinômio contextual, escalemos nossos muros, sem puxar o outro pelo rabo. Ajudemo-nos reciprocamente e seremos mais felizes!
Luiz Lopes Filho, 18 de março de 2013
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