domingo, 17 de fevereiro de 2013

Quaresma


Quaresma

Não me recordo de ter participado em toda minha vida de uma Missa de Cinzas, cedinho após estes dias de folia.

Mas aconteceu este ano pela primeira vez. Fiquei preso aqui no Porto das Dunas, seja por comodismo, seja por não me arriscar com resquícios de lúpulo e cevada da noite anterior. Foi uma folia familiar, sem exageros. Talvez por isso que tenha ido na 4ª feira de cinzas à Capelinha de São Francisco aqui ao lado do estacionamento do Beach Park. Por sinal, uma igreja que retrata o paradoxo social da comunidade local. Igreja singela, frequentantes nem tanto. O puro retrato da simplicidade sanfranciscana, com piso em cerâmica simples, paredes em pintura à base d’água, telhado aparente com ninhos de pardais decorando seus caibros e ripas. Estes são os reais inquilinos da capela que tem a proteção de seu dono, São Francisco. Por este motivo, torna-se um templo tão especial.

Hoje a capela encontra-se em reforma, não por se buscar mais pompa, mas tão somente por melhorar a segurança do telhado que já não suporta mais uma chuvinha por completo. A Capela de São Francisco pede ajuda à comunidade de Aquiraz e também aos moradores de finais de semana do Porto das Dunas para que a reforma se conclua o mais rápido possível e tenha a simplicidade e funcionalidade condizente com os dogmas sanfranciscanos.

Mas, voltando ao cerne do assunto (by the way), a Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a Páscoa. É tempo para meditarmos, prometer minimizar nossas falhas e buscar sermos melhores e mais solidários e, assim, sentirmo-nos mais próximos a Jesus.

Lembrei-me até do Padre Luís, meu professor de Português, Ciências Biológicas e de Puericultura. Já pensou? Até isso o currículo do Colégio Militar previa a seus alunos de primeiro grau. Era meu professor Padre Luís que sempre nos dizia: Vamos rezar e não prometer que nunca mais vamos pecar. Digam somente isto a Jesus; - “Jesus, prometo diminuir meus pecados!”  Nunca me esqueci disso e também como gostava desse refrão: “ Prometo diminuir meus pecados”.

A Quaresma dura 40 dias, começando na Quarta-feira de Cinzas e terminando no Domingo de Ramos. Neste caminho, tentamos estilizamo-nos como filhos de Deus, distanciando-nos das coisas materiais. Mas como conciliar estes duas coisas tão divergentes? Se temos que pagar o IPVA, o IPTU, matrículas das escolas, compras do final de ano no cartão de crédito e tudo mais? Infelizmente não podemos cortar este link com o viés material, mas podemos filtrar a ambição e dar lugar à serenidade do cumprimento de nosso trabalho, sem desmedidas concorrências em detrimento da estabilidade do próximo, do colega de trabalho, do concorrente do mercado.

A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras.

Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos  corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito. Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.

No início deste texto, lembrei-me dos comentários do padre sobre nossa penitência e nosso jejum, alertando-nos que não se precisa aparecer, dizer que foi à missa de Cinzas, dizer que está rezando, dizer que é bembomzinho para todos. Temos que sê-lo somente para Jesus e não mais para ninguém. Pois, como diz meu amigo carequinha William Citó: Só quem é Bembomzinho é Jesus.

Pensei em abster-me d'algo que para mim fosse algum sacrifício nestes 40 dias: deixar de tomar um chopp, deixar de apreciar um bom vinho à noitinha, deixar de comer um BigMac ou uma coca bem geladinha. Coisas desse tipo. Mas, grande coisa! Não é preferível fazer uma caridade a alguém que necessite a jejuar como faziam os fariseus e a se penitenciar gastronomicamente?

Senti-me um fariseu dizendo que fui à missa de 4ª feira de Cinzas, mas não foi nesse intuito minha mensagem, foi exatamente para alertar a melhoria de nossa alma para conosco e para com o próximo, sem hipocrisias deste ínterim religioso.

Mas, apesar de todas as boas qualidades, um fariseu continua sendo um fariseu, ou seja, um homem com má reputação. Por quê? Além da característica mais marcante de um fariseu, que Jesus mencionou muitas vezes – a hipocrisia –, ainda havia outra coisa que era própria de um fariseu: sua grande erudição, seu enorme conhecimento. Não que isso seja algo ruim. E devemos salientar tranqüilamente que os fariseus de fato eram letrados – homens muito cultos e exímios conhecedores das Escrituras. É dito, por exemplo, de Gamaliel, um dos maiores fariseus daquele tempo e mestre do jovem Saulo de Tarso: "Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da Lei, acatado por todo o povo..." . Segundo tradições judaicas, esse Gamaliel até era chamado de "o esplendor da Lei". Mas era justamente isso que fazia com que os fariseus se tornassem fariseus. Pois, ao invés dessa enorme erudição conduzi-los à verdade, grande parte deles seguia por um caminho totalmente errado. Tanto é que Paulo, o maior fariseu de todos os tempos, reconheceu esse fato, pois escreveu aos coríntios: "O saber ensoberbece, mas o amor edifica". Os fariseus realmente tinham grande conhecimento, mas justamente por isso se tornaram hipócritas e cheios de si, pois lhes faltava o amor ao próximo.

Continuemos então nossas vidas, pois depois da Quaresma, vem novamente a Páscoa, o Sábado de Aleluia, o Apedrejamento de Judas pelos nossos queridos rincões interioranos,  vem as Festas Juninas, a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro de minha Reriutaba e, aí o ano desce rapidamente a ladeira no rumo do Natal e do Reveillon e, tudo começa novamente.

E aí vem meu dileto escritor Mário Quintana com a verdade que lembramos a cada ciclo e que plagiei sem o significado maléfico da palavra.

“Quando menos se espera já é meio-dia, já é dezembro e janeiro novamente e então já se foi grande parte de nossas vidas. Vivamos hoje” 

(Luiz Lopes Filho, plagiando sadiamente Seiscentos e Sessenta e Seis de Mário Quintana) que ora hachuro acima com admiração e respeito a este mineiro poeta.

Seiscentos e Sessenta e Seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio,
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Luiz Lopes Filho
Aquiraz, 17 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carnavais passados



Mais um carnaval se inicia e hoje repassei em meus arquivos fotos de velhos carnavais que valem serem revistas. Não pelo saudosismo, mas porque carnaval é alegria, desprendimento, amizades, comemoração, família e, também responsabilidade. E é isto que desejo a todos: muitos carnavais pela frente, todos historiados com alegria!

Espero que todos tenham a alegria e a responsabilidade caminhando juntos, sem brigas, sem velocidades, sem exageros etílicos.

Um feliz e sadio carnaval, seja em Fortaleza, no Brasil todo e, principalmente em Reriutaba.

Reriutaba: Felipe Aguiar, Mardônio, Luiz Filho, Paulo Juvenal, Luiz Filho, Zé Carlos, Tarciano, Zé Jr e James

Aracati: Pontes Neto, Robério, Luiz Filho e Flávio Reis

Ilhas Margaritas: Fujita, Ary, Régis e Luiz Filho

Reriutaba: Marcelo, Ligiane, Marfisa, Aguiar, Aída, Luiz Filho 

Reriutaba-Oitizeiro:Tarciano, Galeno e Assis Jr

Reriutaba-Sítio 2012:Tio Evandro, Mamãe, Luiz Filho, Tio Zé Antônio e Papai

Reriutaba-Puas de Ouro:Felipe, Mardônio, Tarciano, Zé Carlos, Luiz Filho, Zé Jr e Marcelo


Reriutaba-Bar Luiz Jr: Chico Basil, Joaquim e Antônio do João Coelho


Reriutaba:Zé Jr, Marcelo, Luiz Filho e Tarciano


Salvador: Luiz Filho e Luana Piovani- Bloco Coruja


Reriutaba:Galeno e Luiz Filho - Bloco do Cebola 2011


              Reriutaba:Cláudio, Marcelo e Luiz Filho - Bloco do Cebola 2011


Fortaleza, 08/02/2013 - Luiz Lopes Filho




Buchecha


Buchecha

Viajei para Reriutaba na 3ª feira, cedinho, por volta das cinco da manhã. Peguei meu primo no apartamento dele e rumamos à nossa cidade.

Lá chegando, tossindo muito, abracei meu pai;  ele  abençôou-me e, instantaneamente, passei direto para meu quarto no pavimento superior. E, como não fazia isto costumeiramente, despertou logo a preocupação dele.

-O que será que meu filho tem? Tossindo tanto, calado, quase não conversou! Este foi seu pensamento que ouvi bem nitidamente.

Deitado na minha cama, preocupado até mesmo com aquela tosse que não me cedia espaço para respirar, ouvi o lento passo dele galgando cada degrau da escada.

– Luiz, o que você tem? Tá doente?

– Não, pai! Somente esta tosse mesmo e cansado da viagem. Mas, não. Também tinha minhas preocupações do trabalho, dos compromissos, do dia-a-dia.

No outro dia, como adormeci por volta das vinte e uma horas, cinco da manhã já me deparei com a mamãe na sala me esperando para ir ao sítio. Havia comprado em Fortaleza umas tintas, umas lâmpadas para serem  substituídas e outros adereços para nosso espaçozinho do pé-de-serra.

Flores lá de nós

Lá chegando, vi nosso caseiro, o Sérgio Buchecha. Sorridente, tranquilo, pintando na sua calma o portão do sítio. Vez por outra, passava a mão na cara para espantar uma borboleta amarela.
– Sérgio, e aí? Tudo bem? Tá de moto nova! Que bom, dirigi-me a ele.
– Oi, dotô, tá tudo bem. Se melhorar, estraga! Dizia, inclinando o rosto para cima.

Também pudera: sem preocupação com contas, com saúde, com previdência, com empregados, com impostos! Que vida boa essa do Sérgio, pensava eu nos meus absortos. Tudo bem que fosse sacrificado financeiramente, morando numa simples casa, sem mimos nem tecnologia, sem espaço nem ambições.

Ah, aí estava então o segredo de sua felicidade! Sem ambições, mesmo que as fossem sadias. Sem preocupação no amanhã! Que vida boa essa do Buchecha, prosseguia em meu pensamento numa momentânea e sadia inveja.

Hoje, lendo um artigo que minha mãe enviou-me por email, lembrei do Buchecha e de tantas outras pessoas que são felizes apenas com o básico do básico, com o respirar e um pouco de pão, com o alvorescer e um gole d’água. Essa era a riqueza do Buchecha.

No artigo do Frei Beto, contextualiza-se o modo de viver do Buchecha num total paradoxo a(o) inteligente, esbelto(a), rico(a) e apressado(a) executivo que passa fisicamente vivo e espiritualmente morto nos hall de nossos aeroportos.  Vejamos então:

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:
'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'.
Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.  'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'
'Que tanta coisa?', perguntei.
'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!'
Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'
O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse. Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald’s...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:... "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser Feliz"!!

Fortaleza, 08/02/13
Luiz Lopes Filho (prólogo) e texto de Frei Beto.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Viva a Vida.



Apenas repassando uma profunda mensagem de autoria desconhecida....

O que tem na maleta?


Um homem morreu.
Ao se dar conta, viu que Deus se aproximava e tinha uma maleta com Ele.
E Deus disse:
- Bem, filho, hora de irmos.

O homem assombrado perguntou:
- Já? Tão rápido?
Eu tinha muitos planos...

- Sinto muito, mas é o momento de sua partida.
- O que tem na maleta?
Perguntou o homem.

E Deus respondeu:
- Os seus pertences!!!
- Meus pertences?
Minhas coisas, minha roupa, meu dinheiro?

Deus respondeu:
- Esses nunca foram seus, eram da terra.

- Então são as minhas recordações?
- Elas nunca foram suas, elas eram do tempo.

- Meus talentos?
- Esses não pertenciam a você, eram das circunstâncias.

- Então são meus amigos, meus familiares?
- Sinto muito, eles nunca pertenceram a você, eles eram do caminho.

- Minha mulher e meus filhos?
- Eles nunca lhe pertenceram, eram de seu coração.

- É o meu corpo.
- Nunca foi seu, ele era do pó. 

- Então é a minha alma. 
- Não!
Essa é minha.

Então, o homem cheio de medo, tomou a maleta de Deus e ao abri-la se deu conta de que estava vazia...
Com uma lágrima de desamparo brotando em seus olhos, o homem disse:
- Nunca tive nada?

- É assim, cada um dos momentos que você viveu foram seus. 
A vida é só um momento... 
Um momento só seu!
Por isso, enquanto estiver no tempo, desfrute-o em sua totalidade.

Que nada do que você acredita que lhe pertence o detenha...

Viva o agora!
Viva sua vida!

 E não se esqueça de SER FELIZ, é o único que realmente vale a pena!  
As coisas materiais e todo o resto pelo que você luta fica aqui.

VOCÊ NÃO LEVA NADA! 

Valorize àqueles que valorizam você, não perca tempo com alguém que não tem tempo para você.



Passe esta bela reflexão a todos que você gosta neste mundo e desfrute cada segundo vivido.

É isto que você vai levar.

                                                                               











sábado, 26 de janeiro de 2013

Tio Tonico


Apenas Repassando


Eu não tenho Tio Tonico, nem mais sequer qualquer tio da parte de meu pai.
Conheci quase todos: Tio Assis, meu padrinho a quem lhes alcunhavam como Assis Calixto. Uma pessoa brincalhona, carnavalesca e que herdou o dom farmacêutico de meu avô José Calixto.
Tio Osmundo a princípio conhecido como o senhor da bomba de gasolina, depois como aquele teimoso cardiopata de uma honestidade ímpar e de bom coração.
O Tio Sitônio, inteligente e teimoso, a quem me tinha especial dedicação (trabalhava no IBGE da cidade, mas que também cedo partiu).
O Tio Deusdedit, marido dedicado, filho exemplar, pai que fazia tudo que os filhos queriam, por tão somente ser bom demais, mas que queria mais bem a mim que aos filhos (acho pelo simples motivo de também gostar muito dele).
Tio Marmiro, este conheci já perto de partir e que não teve a alegria de reviver Reriutaba, pois foi-se embora de casa ainda rapazinho e nunca mais retornou  ao lar e;  por fim o Tio Silva, a quem cabia as honras de sempre ajudar aos pais e que longa vida teve em relação aos demais.
Num certo dia fui ao Rio de Janeiro com meus pais para visitá-lo e, qual surpresa: foi embora para o além sem esperar por nós, nada avisando, nada deixando. Viveu, morreu,  saudades não levou nem deixou, da mesma forma que nosso Tio Vicente que também não conheci, mas que era muito querido por meu pai.
Deixo para falar por último de duas tias minhas: a Tia Beatriz que foi um ícone na educação de muitas crianças da cidade, alfabetizando com carinho e dedicação tantos e tantos meninos da minha querida terra e a Tia Julita, a quem muito serviu à minha avó materna Deolinda Lopes em seus cuidados pessoais.

Nem sei o porquê deste prólogo referenciando tantas pessoas do lado familiar de meu pai, talvez porque sempre os vi a serem remediados, a terem preocupação com pressão alta e por conviver com seu pai, o tão pacato, competente e bondoso farmacêutico José Calixto.

Não tive a alegria de conhecer meu avô paterno, tão conhecido como Zé Calixto, aquele que tinha uma farmácia para ajudar a todos, não para lucrar, não para vender fórmulas.

E o motivo deste prólogo é uma antítese às atitudes profissionais de meu avô Zé Calixto, pois hoje ficamos doentes pelo exagero de tantos exames, de tanta farmacologia.

Não quero de forma alguma minimizar o bom trabalho de nossos atuais farmacêuticos e médicos de boa índole e de boa formação técnica, mas exatamente protestar contra a forma exacerbada de alguns médicos e planos de saúde que nos recomendam exames e receituários em demasia para satisfazer à indústria médico-farmacêutica com comissões paralelas em detrimento de nosso bem estar clínico e financeiro.

E aqui vai uma história paradigma de meu hipotético tio Tonico. Estava bem de saúde,até que sua esposa, minha tia Marocas, a pedido de sua filha, minha prima Totinha, disse:
-Tonico, você vai fazer 70 anos, está na hora de fazer um check-up com o médico.
- Para quê, estou me sentindo muito bem!
-Porque a prevenção deve ser feito agora, quando você ainda se sente jovem, disse minha tia.

Então meu tio Tonico foi ver um médico.  O médico, sabiamente, mandou-o fazer testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.

Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. 

Então receitou:

Comprimidos Atorvastatina para o colesterol, Losartan para o coração e hipertensão, Metformina para evitar diabetes, Polivitaminas para aumentar as defesas. Norvastatina para a pressão, Desloratadina em alergia.

Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou Omeprazol e um diurético para os inchaços.

Meu tio Tonico foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em várias caixas requintadas de cores sortidas.

Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico.  Este lhe deu uma caixinha com várias divisões, mas achou que titio estava tenso e algo contrariado.  Receitou-lhe, então, Alprazolam e Sucedal para dormir.

Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com  as receitas, o farmacêutico e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio, enquanto eles aplaudiam.
Meu tio, em vez de melhorar, foi piorando.

Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saia mais de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar as pílulas.

Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termômetro, um frasco estéril para análise de urina e lápis com o logotipo da farmácia.

Meu tio deu azar e pegou um resfriado.  Minha tia Marocas, como de costume, fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.

Ele disse que não era nada, mas prescreveu Tapsin para tomar durante o dia e  Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou  Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina. A cada 12 horas, durante 10 días.  Apareceram fungos e herpes, e ele receitou  Fluconol com Zovirax.

Para piorar a situação, Tio Tonico começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo todas as contra-indicações, advertências, precauções, reações adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.

Leu coisas terríveis.  Não só poderia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um monte de coisas terríveis.

Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam para se isentar de culpa.

- Calma, seu Tonico, não fique aflito, disse médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg.  E como titio estava com dor  nas articulações deu Diclofenac.

Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a aposentadoria, ia direto para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.

Chegou um momento em que o dia do pobre do meu tio Tonico não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insônia que haviam sido prescritas. 
Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu!

No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmacêutico.

Agora tia Marocas diz que felizmente mandou titio para o médico bem na hora, porque se não, com certeza, ele teria morrido antes.
 
Este e-mail é dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos, farmacêuticos ou pacientes.

Qualquer semelhança com fatos reais será “pura coincidência”